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O Caso do Marx.

Quero aproveitar esse episódio do Sr. Deputado Federal Kim Kataguiri para tentar desmistificar e esclarecer algumas coisas sobre todo esse combate e maldizer direcionado a Marx. Eu não sou Filósofo ou Cientista Social, mas me dediquei à leitura e estudo de Marx, inclusive do 'Das Kapital', sua obra magna. Não acho que devemos transformá-lo num ídolo ou guru, inclusive ele mesmo combatia este tipo de idolatria, ainda em vida, quando cunharam o termo "marxismo" para se referir à sua obra. Acho mesmo que precisamos questioná-lo, e muito! E, de fato, foi assim que ele estudava os pensadores com os quais dialogava. Claro, via de regra era bem "ácido" na crítica. Não faltam motivos para ler Marx se quisermos compreender importantes chaves de interpretação do nosso mundo. E, de qualquer maneira, o interesse de entender a Modernidade nos obriga a passar por Marx, Freud e Nietzshe.Os chamados "Mestres da Suspeita". Confesso que não é uma leitura fácil, primeiro pela forma de escrita e argumentação, via de regra bem analítica, que às vezes parece exaustiva ou repetitiva, mas acho que isso se deve a um certo rigor científico ou filosófico. Segundo, o fato dele fazer crítica à outros filósofos, e diga-se de passagem, eminentes filósofos de sua época, um mínimo de conhecimento destes outros se faz necessário. Bem, conhecer Hegel definitivamente não parece uma tarefa desejável.De fato, abandonei a "Ciência da Lógica" do Hegel no primeiro capítulo. Para o caso do Hegel tive que me contentar com o que outros explicam sobre ele. Mas, tá valendo!

Quem é Marx? Podemos afirmar, de forma simplificada e panfletária, que as influências que moldaram o pensamento de Marx foram: a Filosofia alemã - destaque para Hegel (Dialética) e Feuerbach (Materialismo) -, o movimento operário francês (socialistas e comunistas) e a Economia Política inglesa (Adam Smith). Não é preciso dizer que Marx se dedica de forma intensa e aprofundada para estudá-los, criticá-los e, em boa medida, superá-los. Marx passava horas e horas dentro do Museu Britânico (que de certo era a maior bibliotca da Europa àquela época) estudando. Mas precisa ficar claro que Marx, desde jovem, nunca ficou só no pensamento, nas palavras. Era uma cara de ação, prática revolucionária. Como ele cunhou nas Teses sobre Feuerbach. Tese XI: " Os filósofos interpretaram o mundo de muitas maneira, mas o que importa é transformá-lo". Inclusive o texto mais panfletário dele e do Engels, o Manifesto Comunista, é fruto da sua participação dentro da Liga dos Comunistas, originada da Liga dos Justos, de base comunista cristã, que reunia imigrantes alemães em Paris. Por falar nisso, embora Marx não tenha se dedicado a escrever sobre o Cristianismo, ele utiliza muitas “metáforas bíblicas”, conforme aponta Enrique Dussel. Lembremos que Marx provavelmente conhecia bem os textos da Bíblia, pois era de familia judia e seu avô paterno foi rabino. Mas Engels se dedica a estudar o Cristianismo e parece sugerir que o cristianismo primitivo é inspirador do movimento operário e socialista. Tenho a impressão que alguns marxistas desconhecem o "Contribuição para a História do Cristianismo Primitivo", obra na qual Engels faz algo como uma exegese do livro do Apocalipse. A repetida frase de que "A religião é o ópio do povo", via de regra utilizada para lançar à Marx uma condenação do ponto de vista religioso, não pode vir desacompanhada de todo o resto do parágrafo: "A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos." (Crítica da Filosofia do Direito de Hegel) Toda e qualquer acusão de que Marx tem pensamento linear, sem considerar as contradições e os diferentes vetores que influenciam um fenômeno é sem base e não apropriada à alguém que optou pela Dialética e pelo materialismo histórico para investigar a sociedade. Podemos falar em 'Tendências', mas nunca em 'determinismo'. Não dá pra separar o autor da sua vida! A vida migrante e polêmica de Marx, devido à perseguição por forças do Estado, a saúde comprometida, as dificuldades econômicas e prematuras mortes de filhos(as) deram muito "pano pra manga" das várias biografias.

Desmistificando #1 - O Estado. Aqui cabe uma primeira explicação para desmitificar uma confusão que fazem com as ideias de Marx. Não, Marx não é a favor de um Estado "inchado", "pesado". Pasmem, Marx é contra o Estado. O comunismo é contra o Estado. Comunismo é a superação do Estado! Comunismo não tem nada a ver com Estadismo. Conforme o livro "Crítica da Filosofia do Direito de Hegel", diz Marx que na verdadeira Democracia , “o Estado político desaparece”, assim como também a sociedade civil. Então, não é de bom senso ficar reproduzindo esse discurso de que Marx e o Marxismo defendem um Estado controlador e opressor. Vale lembrar aqui o conceito de Estado apresentado por Max Weber (no livro "Economia e Sociedade"): "Estado é uma relação de homens dominando homens, relação mantida por meio da violência legítima (isto é, considerada como legítima). Ele é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território".

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